DOCENTE NAZARETH FONSECA DESTACA LEITURA CRÍTICA DO POEMÁRIO “TÁBUA”
A crítica literária Nazareth Fonseca propôs, na quinta-feira, uma leitura crítica do livro “Tábua”, uma obra que “cultua a memória e ressignifica o luto colectivo”.
Ao dissertar o tema “A escrita como trabalho de memória na poesia de Adriano Botelho de Vasconcelos”, na segunda conferência do ciclo do mês de Setembro da série Conversas da Academia à Quinta-feira, a conferencista afirmou que a poesia de Botelho de Vasconcelos, marcada por rastros de luz e trevas, convoca imagens de horrores migrados para o poema, onde o significante “luz” se entrelaça com o temor do esquecimento. Organizada pela Academia Angolana de Letras, para celebrar o 70.º aniversário do escritor A. Botelho de Vasconcelos, a conferência presenciada por académicos de Angola, Bélgica, Brasil e Portugal foi moderada pela crítica literária Carmen Tindó.
A professora Emérita da Universidade Federal de Minas Gerais destacou que “Tábua” não apenas apresenta os poemas como campo de imagens, mas também os inscreve num contexto social e político, evocando cemitérios, campas e escombros. “Dar banho ao seu morto com pátrias e pétalas do meu quintal”, verso citado do poeta, revela o envolvimento do poema com traumas da experiência pessoal e a dor colectiva dos sacrificados.Nazareth Fonseca destacou um outro verso que condensa o núcleo simbólico da obra: “As estrelas deixaram de perseguir os seus deuses”. No entender da conferencista, o verso expressa a ruptura entre memória e transcendência, as estrelas, que guiavam os rituais, cessam a sua vigília, e o poema assume a missão de restaurar o elo perdido. É a linguagem que persegue os deuses esquecidos, a fim de devolver sentido ao sacrifício. “Tábua, enquanto lei incrustada no sacrifício, transforma o trauma em símbolo, cultua os mortos sem nome e devolve à linguagem a sua função de cura e o poema, ao invés de narrar, evoca, interroga e semeia a palavra”.
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